Desejo que este espaço seja um local que você tenha prazer de participar, e que nossas trocas intelectuais, culturais, emocionais e espirituais resultem em acréscimo para todos nós.  A intenção deste blog também é de publicar algum artigo que você tenha produzido, para que todos aprendamos sobre os mais diversos temas. Enfim, que este seja um local
aconchegante para você.

segunda-feira, 19 de abril de 2010

COMO VIVER A VIDA, SEGUNDO A GLOBO

È fato: as novelas da Globo e seus programas de grande audiência continuam ditando normas, valores e costumes. Volta e meia ouvimos alguém soltar famosos bordões como “hare baba”, “tô certo ou tô errado?”, “né brinquedo não”, “ishalá”, e outros consagrados pelos folhetins globais.
Antes que alguém levante a mão para perguntar, esse texto tem, sim, muito a ver com Administração. Qualquer evento que influencie, direta ou indiretamente, o nosso comportamento é extremamente importante para a forma como conduzimos os nossos negócios. Não é à toa que os grandes anunciantes disputam a peso de ouro o horário nobre da televisão brasileira – bem como os próprios atores. Da mesma forma, as grifes (re)direcionam suas coleções aos estilos exibidos pelas belas e influentes atrizes das novelas, mesmo que essas se passem em lugares exóticos como Índia e Marrocos, ou genuinamente brasileiros como Barretos, Rio e São Paulo. Até pouco tempo atrás, muitas moças estavam usando parte do sutiã à mostra, para imitar o modelito de Norminha, a simpática – e faceira – personagem interpretada recentemente por Dira Paes. Novelas ditam modas e, como administradores, devemos estar atentos.
Espanta-me essa última, que traz o curioso título de “Viver a Vida”. Apesar de apresentar depoimentos emocionantes de pessoas reais que superaram grandes problemas no final dos episódios, Viver a Vida dá um show de deturpação de valores do começo ao fim de cada capítulo.
Normalmente, as obras de ficção dividem claramente as pessoas entre boas e más, o certo e o errado são evidentes, e nos colocamos a torcer pelo sucesso do protagonista e o castigo dos vilões, como o fizemos em A Favorita, com o duelo entre Donatela e Flora.
Na novela de Manoel Carlos, esse dualismo não existe. Com a desculpa de aproximar seus personagens da realidade, o autor lhes confere virtudes e defeitos. Entretanto, paira um ar de normalidade sobre todas as safadezas cometidas pelos personagens, que eu chego a me perguntar o que ele quer dizer, realmente, com “viver a vida”.
Viver a Vida é uma novela onde praticamente todos os personagens enganam uns aos outros. O marido trai a esposa com a prima dela, a esposa trai o marido com o cara da academia, o outro troca a companheira de uma vida inteira por uma modelo 30 anos mais jovem , que agora já vive um affair com o sujeito que conheceu no meio do deserto (que corre o risco de ser filho de seu próprio marido), irmãos (gêmeos!) disputam a mesma garota… ufa! E tem muito mais, mas não quero tirar a paciência do leitor com essas picuinhas.
Onde mora o perigo?
Diversos estudos, em especial os conduzidos pelo Prof. Robert B. Cialdini, da Arizona State University, demonstram que temos uma grande tendência a fazer o que a maioria faz – mesmo que seja um comportamento socialmente indesejável. Segundo Cialdini, somos naturalmente maria-vai-com-as-outras*.
Manoel Carlos gasta o seu latim para provar que trair é algo normal, que todo mundo trai todo mundo e não há nada reprovável nisso. Pelo contrário: é até algo bonito, poético. As puladas de cerca ocorrem sempre com o belíssimo pano de fundo da cidade maravilhosa ao entardecer, do alto de uma asa delta, ou nas areias paradisíacas de Búzios, ao som de uma belíssima trilha sonora. Sei lá, sei lá…
Há algum tempo, havia em minha cidade um jornalzinho que circulava entre os colégios, cuja maior atração eram os recadinhos que os alunos postavam uns para os outros. Depois que Aline Moraes interpretou uma jovem lésbica em uma novela, houve uma explosão de recados (românticos) de garotas para garotas. Não estou fazendo juízo de valor no que diz respeito às escolhas sexuais de ninguém. Entretanto, desconfio que muitos desses recados não tinham nada a ver com a sexualidade dessas garotas. Elas apenas queriam ser a Aline Moraes… Imagino que, se a personagem da bela atriz fosse interpretada por Regina Casé, o efeito no jornal teria sido nulo ou completamente inverso.
Mesmo sabendo que o comportamento é uma potente fonte de influência social, geralmente as pessoas que participam de estudos de psicologia social dizem com veemência que o comportamento alheio não influencia o seu próprio. Você aí do outro lado também deve estar dizendo que isso é uma grande besteira, que você não é influenciado por novelas, nem por ninguém. Beleza. Mas, com certeza, você conhece um monte de gente que adora seguir a maioria.
O perigo está na mensagem, repetida diariamente à exaustão, justamente no horário em que a maioria dos televisores sintoniza a rede do plim-plim. Muita gente assimila o comportamento dos personagens como adequado, moderno e normal. A novela de Manoel Carlos é a receita para o fracasso de uma sociedade que tem (ou já teve?) na família o seu mais firme alicerce. Viver a vida, de verdade, é muito mais do que isso. Tô certo ou tô errado?

Fonte: Revista Você S/A -http://vocesa.abril.com.br/blog/leandro/2010/01/20/como-viver-a-vida-segundo-a-globo/

Por Leandro Vieira

quinta-feira, 8 de abril de 2010

UM DEPOIMENTO SOBRE LUTO

Breve Histórico

Nossa mãe, Maria Carmem , apresentou os primeiros sintomas de uma doença neurológica degenerativa em 1999. De 2001 em diante permaneceu acamada, com perdas significativas de suas capacidades num processo de enfermidade longo e penoso , tanto para ela quanto para os que a amavam, e era muito fácil amá-la. Ela era uma pessoa tão bacana que fica difícil de descrever . Sua fé no Salvador a fez uma pessoa tão diferente, que revelava algo que transcendia tudo e isso foi o amor que soube comunicar .Foi necessário aprender deixá-la partir .



A despeito da sua fragilidade soube ser força e fortaleza para enfrentar tanto a vida como a morte , ambas de frente , num sorriso maroto e único .

Somos os agraciados de Deus por sermos seus filhos, e agora, entre irmãos , compartilhamos tão doces lembranças a respeito de uma mãe simplesmente encantadora.

Obrigada a Deus que no-la deu , e por abrigá-la agora junto a Si, num lugar onde não existe dor nem sofrimento .Obrigada ao CPPC e aos amigos pelo carinho e terno abraço que têm nos dado, expressão do Espírito Santo , nosso Consolador.



( o texto abaixo foi escrito 32 dias antes de sua morte )



SAUDADE





Amada mãezinha:



A despedida é longa , sofrida...
mas tudo ficará sereno depois da partida.
O coração despedaçado porque já não estás na janela acenando antes da escola ,
nem há o beijo na face quando do encontro.
Hoje já nem abres os olhos ,
nem vês teus filhos ao teu redor...
a alma tocada pela saudade,
e certos do teu grande e imerecido amor por todos nós.
Tudo é tão cheio de lembranças...
do teu beijo fiel de boa noite que acalmava o temor dos fantasmas
no imaginário infantil.
O aroma da refeição preparada com tanto talento e zelo...
e o colo quente e perfumado no aconchego do teu seio...
que nos serenava as lágrimas seja qual fosse a causa da dor ,
algumas vezes não física, mas por origem o desamor de uma paixão.
Teu sorriso radiante repleto de ternura
e tua inabalável fé...
Foste tu que nos ensinaste o Caminho do amor , da Verdade e da Vida
e a balbuciar o doce nome de Jesus.
Contigo aprendemos a juntar as mãos de pequenos na prece ,
...e a sermos agradecidos.
Não por acaso foi num dia de Corpus Christi que te entregaste mais a Ele...
Ele te chamando e tu indo...
e foi do mesmo modo no dia Internacional da Mulher.
A cada vez te abandonas mais e mais...
e deixas conosco as recordações dos presentes sem data especial ofertados com tanto carinho
e das festas de aniversário decoradas com heróis e castelos de princesas
que preparavas com tanto empenho para vivenciarmos a magia
como era também no Natal com a árvore tocando o teto
e na Páscoa " a marca das patinhas do coelho "
para seguirmos até os ninhos na trilha do chão .
A bondade nas tuas formosas mãos preparando o remédio
e os curativos resultados das brincadeiras de crianças.
És como um poema, uma canção, e o significado do teu nome é
VINHEDO DO SENHOR.
Sempre foste uma mulher tão grande e à frente do teu tempo...
alegre , divertida , generosa ,
livre como os passarinhos que alimentavas todos os dias na janela...
cheia de intensa vida no teu espírito ...
És e serás sempre nossa Rainha,
e diante de Deus a exemplar serva,
que pensava antes nos pobres e desvalidos e por último em si ,
no afeto distribuído sem medida.
Recebe tua coroa da vida, teu galardão ,
teu justo prêmio por teu coração .
Vai amada , agora , receber de Deus, o luminoso sorriso Dele
porque diante da Face do Absoluto na Sua Glória ,
terás tudo , por toda a eternidade ...
E aí , um dia , no apertado abraço do reencontro ,
passearemos todos juntos no Jardim do Senhor.
Nós te amamos.
Com amor ,
tua filha Rê.





*Maria Cármen Medeiros Fabrício faleceu em 10/04/2007 , uma terça-feira , às 8: 30 h da manhã ., de falência múltiplas de órgãos .Em 26 /05/07 completaria 76 anos. Seu versículo predileto era : "Entrega teu caminho ao Senhor, confia Nele , e o mais Ele fará. " Salmo 37 : 5

A HISTÓRIA DE CARMINHA

Corria o ano de 1931.
O inverno chegou mais cedo nos pagos do Rio Grande, trazendo o frio, o minuano, a umidade, a geada, o silêncio e a solidão aos campos missioneiros.
Mas, no campo dos Medeiros, em uma fria madrugada, um choro de criança recém nascida corta o silêncio.
Aristides abre um longo sorriso no rosto sério de chefe de família; lágrimas de felicidade escorrem pela face serena e suave de Irene – a casa dos Medeiros recebia com paz e harmonia aquela criança que vinha ao mundo na solitária madrugada.
Era uma menina, de nome Maria Carmem, mas de Carminha a vida inteira seria chamada.
Nasceu de 7 meses, com a saúde frágil.
Em razão disso, a mãe enrolava a guria em roupas de lã e, para protegê-la do frio que trazia dentro de si, a embalava, cantarolando cantigas de ninar, próximo do fogão à lenha que havia na cozinha.
Não adiantava, embora os redobrados cuidados da carinhosa Irene.
A Carminha seguia chorando, lutando contra a frágil saúde, agravada pelo parto prematuro, pelo frio, pela umidade, pela geada e pelo minuano.
Mas a guria tinha o sangue Medeiros nas veias – lutar estava no seu destino.
Que viesse a vida e suas lutas.

II –
Aos poucos, a brava Carminha foi superando os problemas de saúde, embora o inverno sempre a castigasse com rigor e constância.
Primogênita do casal, tornou-se companheira inseparável da mãe, seu exemplo e modelo por toda a vida.
Por isso, sofreu quando teve de partir para o internato, em Cruz Alta, onde cumpriria o ritual das filhas das famílias missioneiras nos anos 30 e 40: cursar o Segundo Grau da época (cujo nome, então e durante muito tempo, era curioso: “Normal”).
Finalizado o Segundo Grau, era o momento de despedir-se das amigas de Internato (que jamais a esqueceriam, por toda a vida) e tornar à casa paterna.
Pois às moças do Rio Grande, à época, era incogitável fazer Faculdade.
Bastava ser moça prendada, “de boa família”, e ter finalizado o Segundo Grau para sonhar com o dia em que o príncipe bateria à sua casa, pedindo a sua mão em casamento.
Era o destino das moças de então.
E foi o destino que Carminha cumpriu à risca.

III –
Um par de anos depois, por volta dos 20 anos, o pai preparava-se para viajar à Bossoroca, terra e querência dos Fabrício.
(Quem conhece a história da Bossoroca, sabe que a crase acima não está errada).
A mãe insiste para que Carminha acompanhe o pai naquela viagem.
Carminha, caseira e apegada à mãe, queria ficar.
Irene, pra convencer a filha, disse, então, sorrindo:
- Vai, Carminha. Talvez tu conheças um moço bonito pra ser o meu genro.
Carminha, sorrindo, acatou o pedido da mãe.
E viajou à Bossoroca, acompanhando o pai, Aristides.
Na volta, dois dias depois, a mãe pergunta, de novo sorrindo:
- E então? Conheceste o moço bonito que vai ser o meu genro?
E Carminha, sorrindo sem jeito, respondeu:
- O único moço que eu conheci foi um chato que passou o almoço inteiro falando de um crime que aconteceu não-sei-aonde…

IV –
Um ano e pouco depois, em Santo Ângelo, Capital Missioneira, Carminha voltou a se encontrar com o moço da Bossoroca, no casamento de uma grande amiga de Internato, Helena – que, por coincidência, era prima dele.
Mas não dançaram – a saúde frágil de Carminha voltou a se manifestar naquele rigoroso inverno de julho de 52, a ponto de ter de ser hospitalizada.
Quatro dias depois, o moço da Bossoroca a visita no hospital.
O moço se chamava Newton (mas ela gostava mais do apelido, Nito. Talvez porque, alegre como era, imagino que brincasse com Irene: - Mãe, a senhora queria um genro bonito. Tá aqui o Nito).
Era o destino na vida de Carminha.
E a vida, em breve, lhe traria uma alegria e uma tristeza – pouco tempo depois do noivado, perderia a mãe, seu modelo e referência, que partiu para a Eternidade com apenas 46 anos, vitimada por doença fulminante e inesperada.

V –
Casam em 8 de janeiro de 55.
E atravessam a vida superando juntos os reveses que ela sempre apresenta.
Tiveram momentos tristes e alegres nos 52 anos de casados.
Mas as alegrias foram, imensamente, maiores.
E imensamente maior o Amor que dedicaram aos 5 filhos e 7 netos.

VI –
Mas a saúde frágil lhe reservou um fim cruel.
Passou os últimos 7 anos da sua existência lutando, como foi o seu destino, com dignidade pela vida.
E o moço da Bossoroca, já perto dos 80 anos, foi marido e companheiro, solidário e exemplar ao seu lado, nos 7 anos que passou deitada, no entardecer da vida.

VII –
Penso em tudo isso quando olho para aquele frágil corpo deitado no triste caixão.
Como ela conseguiu chegar às vésperas dos 76 anos, apesar da saúde frágil desde o berço?
Penso que foi graças à capacidade de lutar, de amar a vida e os seus semelhantes, de ser solidária e generosa.
Acima de tudo, foi pelo Amor que dedicou a toda a família, aos Medeiros e aos Fabrício – e a sua imensa fé em Deus.
Mas há mais a pensar.
Penso no que aprendi com ela.
Aprendi muitas coisas que ela me ensinou.
Mas, acima de tudo aprendi com o seu exemplo.
E foi dela que herdei a indignação com as injustiças do mundo.
(E, na exata contrapartida, foi com o exemplo do meu pai que aprendi a agir, sempre, com a Razão; por mais difícil e árdua que seja a situação que se apresente e por maior que seja, na origem, a indignação, as razões da lógica são as que me conduzem, sempre).
E foi com ela que aprendi o sentido, o valor e o significado da palavra solidariedade.
Pois ela dedicou aos 5 filhos e aos 7 netos um Amor sem igual, como se cada um de nós fosse o único.
Mas isso não a impediu de liderar campanhas de solidariedade em relação a pobres e desamparados.
A maioria, pessoas que ela sequer conhecia.
Pois a generosidade era um traço marcante na sua personalidade.
E com todo o Amor que dedicou a cada um de nós, os 5 filhos, se dependesse dela seríamos 6 – porque sofria um Amor de mãe quando via um negrinho pedindo esmolas na esquina.
Se dependesse dela, teria adotado o primeiro negrinho que visse pedindo esmolas na esquina.
A ti, brava Carminha, minha mãe, o meu abraço, o meu agradecimento e o meu respeito.
O último beijo eu já te dei.

Newton Luís Medeiros Fabrício
Obs: por favor, não me envies mensagens de pêsames.
Se queres fazer algo, faças algo pelo primeiro negrinho que tu encontrares pedindo esmolas na esquina.
Porque isso é o que a Carminha – e seu coração, imenso, solidário e generoso – gostaria que fosse feito.

sábado, 3 de abril de 2010

É PÁSCOA

Aos estimados visitantes do blog:

agradeço vocês prestigiarem o Condado, lembrando especialmente agora que a nossa Esperança em Cristo como Salvador renova nossas forças na certeza da Ressurreição.

Meu agradecimento especial a Merton e Jean K.Wondracek, por colaborarem comigo , de modo inestimável, na publicação .



QUERIDOS AMIGOS E FAMILIARES!!!!





PÁSCOA ESPECIAL

Resolvi fazer uma mensagem de Páscoa
bem bonita e cheia de carinho,
para que pudesse homenagear
a nossa amizade.

Pensei em algo simples,
pois meu desejo é um só:
Te deixar mais feliz...

Te fazer sentir o quanto é importante
ser amigo, um algo assim para
te deixar de alto astral!

A vida agitada nos deixa
um pouco de fora da vida
dos amigos, e no nosso dia-a-dia
parece que não sobra tempo
para dizermos o quanto as
pessoas que estão ao nosso redor
são importantes para mim...

Senti necessecidade de dizer
o quanto você é importante...

E foi por isso que eu resolvi aproveitar
esta época de Páscoa para largar
tudo o que estava fazendo e
te mandar esta mensagem...

Quero dizer que sua amizade
é preciosa para mim e que você
estará sempre num lugar especial
dentro do meu coração.

A Páscoa é amor, é fraternidade, é União..
Meu desejo é que sua Páscoa
seja muito feliz e que eu
possa continuar tendo uma amizade
tão especial como é a sua!

Feliz Páscoa!!!!


As Riquezas Infinitas de Cristo

A Páscoa se aproxima. Deus se aproximou de nós, em Cristo.

E por isso, vamos meditar nas riquezas desta graça imerecida dada à Sua igreja, a cada um de nós.


As Riquezas Infinitas de Cristo


Fragmentos do prefácio de João Calvino à versão francesa do Novo Testamento (Ano de 1534)

Traduzido por Pierre Robert Olivétan para



Sem o evangelho

tudo é inútil e vão;
sem o evangelho

não somos cristãos;
sem o evangelho

toda riqueza é pobreza;
toda sabedoria, loucura diante de Deus;
toda força, fraqueza;
e toda a justiça humana jaz sob a condenação de Deus.
Mas pelo conhecimento do evangelho somos feitos

filhos de Deus,
irmãos de Jesus Cristo,
compatriotas dos santos,
cidadãos do Reino do Céu,
herdeiros de Deus com Jesus Cristo, por meio de quem

os pobres são enriquecidos;
os fracos, fortalecidos;
os néscios, feitos sábios;
os pecadores, justificados;
os solitários, confortados;
os duvidosos, assegurados;
e os escravos, libertados.
O evangelho é o poder de Deus para a salvação de todo o que crê. Assim, tudo o que poderíamos pensar ou desejar deve ser achado somente neste mesmo Jesus Cristo.


Pois ele foi

vendido para nos comprar de volta;
preso para nos libertar;
condenado para nos absolver.
Ele foi

feito maldição para nossa bênção;
ofertado pelo pecado para nossa justificação;
desfigurado para nos tornar belos;
Ele morreu pela nossa vida para que, por seu intermédio,

o furor converta-se em mansidão;
a ira seja apaziguada;
as trevas tornem-se luz;
o temor, reafirmação;
o desprezo seja desprezado;
o débito, cancelado;
o labor, aliviado;
a tristeza convertida em júbilo;
a desdita, em felicidade;
as emboscadas sejam reveladas;
os ataques, atacados;
a violência, rechaçada;
o combate, combatido;
a guerra, guerreada;
a vingança, vingada;
o tormento, atormentado;
o abismo, tragado pelo abismo;
o inferno, trespassado;
a morte, assassinada;
a mortalidade convertida em imortalidade.
Resumindo,

a misericórdia tragou toda a miséria;
e a bondade, toda a infelicidade.
Porque todas essas coisas, que deveriam ser as armas do mal na batalha contra nós, e o aguilhão da morte a nos trespassar, transformam-se em provações que podemos converter em nosso benefício.

Se podemos exultar com o apóstolo, dizendo, Ó inferno, onde está a tua vitória? Ó morte, onde está o teu aguilhão? É porque, pelo Espírito de Cristo prometido aos eleitos, já não somos nós quem vive, mas é Cristo quem vive em nós; e, pelo mesmo Espírito, estamos assentados entre aqueles que estão no céu, de modo que, para nós, o mundo já não conta, mesmo que ainda coexistamos nele; mas em tudo estamos contentados, independentemente de país, lugar, condição, vestimentas, alimento e todas essas coisas.

E, portanto,

somos consolados na tribulação,
nos alegramos no infortúnio,
glorificamos quando vituperados,
temos abundância na pobreza,
somos aquecidos na nudez,
pacientes entre os maus,
vivos na morte.
Eis, em síntese, o que deveríamos buscar em toda a Escritura: conhecer verdadeiramente Jesus Cristo e as riquezas infinitas compreendidas nele, as quais nos são ofertadas nele por Deus, o Pai.


Extraido de: Monergismo

Fonte: “Preface to Olivétan’s New Testament” em Westminster Library of Christian Classic (Vol. XXIII), Calvin: Commentaries - Westminster John Knox Press, julho/79, pp. diversas.

Fragmentos do prefácio de Calvino à versão francesa do Novo Testamento (1534) traduzido por Pierre Robert Olivétan.

Seleção e arranjo: Tiago Canuto Baia

Tradução: Marcos Vasconcelos
Recife, 28 de julho de 2009

sexta-feira, 2 de abril de 2010

Dinheiro e Semana Santa

Segunda-feira Santa - A paixão de Cristo e o dinheiro

O Evangelho da segunda-feira da Semana Santa traz a história do perfume
precioso, derramado por Maria sobre os pés de Cristo na casa de Lázaro. Era
caro, e segundo Judas, valia "trezentos denários".

Dinheiro e política compõem o cenário da paixão de Cristo. Por trinta moedas
subornaram Judas para entregar Jesus. E se valeram das veleidades políticas
de Pilatos para condená-lo à cruz: "se soltas este homem não és amigo de
César".

Dinheiro e política compõem também o cenário do drama do povo. A amizade com
os "césares" continua condicionando as causas do povo. E assim os recursos
financeiros não são aplicados segundo as necessidades urgentes dos pobres,
como a saúde, a educação, a moradia, o transporte, o emprego.

Judas, o zelador da "bolsa", diz que o perfume poderia ser vendido, para que
o dinheiro fosse dado aos pobres. Na verdade, ele queria roubar o dinheiro.

Assim fazem entre nós os demagogos: levantam a bandeira dos pobres, mas
entram na política por interesses pessoais. Judas traiu Cristo, os demagogos
traem o povo.

Jesus coloca critérios de valor para o uso do dinheiro. À primeira vista, o
perfume derramado por Maria era um desperdício. Na verdade, era uma ação
educativa: o dinheiro precisa estar sempre disponível para as grandes
causas. Jesus estava prestes a empenhar sua própria vida pela causa da
humanidade. O dinheiro do perfume derramado sobre seu corpo se revestia da
mesma finalidade. Jesus estava dando o critério para a destinação primordial
do dinheiro: "pobres sempre tereis convosco".

O dinheiro entrou na paixão de Cristo. Ele entre no drama da vida humana. É
necessário que ele seja assumido, com responsabilidade. Faz parte de nossos
compromissos analisar a serviço de que causas está sendo colocado o nosso
dinheiro.


Terça-feira Santa - Dinheiro: amor ou traição?

A traição de Judas é capítulo indispensável da paixão de Cristo. É o que a
liturgia coloca nesta terça-feira da Semana Santa. E, de novo, o dinheiro
integra o cenário desta traição.

Diz o Evangelho que o Mestre estava perturbado diante da iminência da
traição. Partilha esses sentimentos com seus discípulos. Pois o contexto era
de intimidade, de amizade, de confiança: uma refeição. Tanto mais destoava a
traição, pois vinha de um amigo, e usava as aparências da amizade para se
perpetrar.

Observa o Evangelho que Judas pôde sair tranqüilo da sala, e partir para a
traição, aparentando as boas intenções do seu ofício: como encarregado do
dinheiro, todos pensavam que ele fosse "comprar o que precisavam para a
festa, ou dar alguma coisa para os pobres".

Para isto serve o dinheiro: para a festa da vida, e para ajudar os pobres.

Nada mais comovente do que ver a alegria dos pobres partilhando o pouco que
possuem. As festas dos pobres são bonitas. Com seus parcos recursos,
multiplicam a alegria da convivência, da acolhida mútua, da descontração, da
alegria de viver. Parece o milagre da multiplicação dos pães: a carência de
todos se transforma em surpreendente abundância, e resulta que todos se
saciam, e ainda sobre alguma coisa.

Na casa do pobre sempre há lugar para mais um. Quando chega o visitante, é
bem acolhido, é convidado à mesa, e ninguém se preocupa se a comida será
suficiente.

Com um pouco de dinheiro dá para multiplicar o amor. Aí o dinheiro se
transforma em vida e em alegria. Ele fica abençoado. Ele atinge sua
finalidade.

O dinheiro que caía na bolsa de Judas deveria servir ao amor. O drama é que
o dinheiro está tão perto da traição, quando passa a ser objeto de cobiça.
Aí ele perde sentido, e leva para a perdição.

Viver a Páscoa é recolocar o dinheiro a serviço da vida e do amor.



Quarta-feira Santa - Dinheiro e poder: os critérios da negociação

Em plena Semana Santa, o Evangelho insiste em mostrar a presença e a ação do
dinheiro na história da paixão de Cristo.

Nesta quarta-feira Mateus nos conta que Judas foi negociar com os sumos
sacerdotes. A traição ficou cotada em trinta moedas. Acertaram-se no preço,
na quantia de dinheiro. Mas com isto o Justo ficou sacrificado. Fizeram
acordo. Entenderam-se a respeito do valor monetário. Mas esqueceram o valor
da vida, que não tem preço. E assim o Cristo foi condenado a morrer.

Diante desta história do Evangelho, podemos situar melhor o problema dos
acordos financeiros.

Entre nós se discute tanto, e com razão, os termos dos acordos que regem
hoje as relações financeiras no mundo globalizado. Até os pobres falam no
FMI. No Brasil foi feito o plebiscito sobre a Dívida Externa, e a primeira
pergunta dizia respeito, exatamente, aos "acordos com o FMI". Mesmo sem
conhecer os termos exatos destes acordos, o povo intui que eles se revestem
de uma perversidade que não pode ser aceita.

E que os acordos não podem se limitar a reger relações financeiras. Eles
precisam estar relacionados com a vida do povo. Caso contrário, correm o
risco de serem injustos, e de colocarem em risco a sobrevivência dos pobres.

Sem a vinculação ética que a deve reger, a economia perde sentido, e se
torna instrumento para condenar à morte a multidão dos excluídos.

O dinheiro, por pouco que seja, dá um poder de negociação. Com uma pobre
bolsa na mão, Judas se transformou em negociador diante do sistema do poder
estabelecido. E foi capaz de provocar uma grande injustiça.

Usar corretamente o poder de negociação que nosso dinheiro nos proporciona,
é um sério dever ético, para todos, em nosso tempo. Pois está em causa a
vida das pessoas, sobretudo dos indefesos.

Quinta-feira Santa - Gratuidade além do dinheiro

No clima comovente de despedida, o Evangelho narra hoje o gesto de Cristo,
de lavar os pés dos apóstolos. E explica como este gesto nascia de um amor
sem limites: "tendo amado os seus, amou-os até o extremo" (Jo 13,1).

De novo, o contraponto deste amor é o ódio cego, que já tinha se instalado
no coração de Judas. A ganância do dinheiro tinha toldado o horizonte de
Judas. O acordo com os sumos sacerdotes o condicionava, e ele se sentia na
obrigação de trair o Mestre. "O diabo já tinha seduzido Judas para entregar
Jesus" (Jo 13,2). O diabo se instala a partir da lógica do lucro.

É importante evitar de entrar nesta lógica. Pois uma vez instalada, tem a
força de uma coerência, tantas vezes afirmada enfaticamente pelos
economistas, que teimam em insistir na "verdade única" da inexorabilidade do
processo econômico excludente que impõe seus critérios. Não se trata de
negar esta coerência intrínseca. Trata-se de mudar de princípio. Trata-se de
substituir o "diabo" do lucro pela gratuidade do amor, feito serviço aos
irmãos. Como fez Cristo na quinta-feira, em contraste total com o que foi
fazer Judas, no mesmo dia e na mesma hora.

A lógica do lucro produz insensibilidade humana, e fecha dentro de
"direitos" que se respaldam em leis inspiradas para sua defesa. A força do
amor leva a ultrapassar os "deveres", e chega a gestos surpreendentes,
rompendo os horizontes das formalidades, e estabelecendo uma nova atitude de
solidariedade e de comunhão. Os discípulos nunca mais irão esquecer o Mestre
que lavou seus pés. E descobrem nele um motivo para a entrega de suas vidas,
além das medidas humanas, e muito além da lógica do lucro.

Só o amor, transformado em serviço gratuito, rompe os limites do lucro.

Sexta-feira Santa - Condenação de Cristo - julgamento do sistema

Hoje o dia nos convida a olhar, com respeito, para o Cristo condenado na
cruz. O fato permanece como a interpelação mais profunda da história humana:
como foi possível uma pessoa que "passou fazendo o bem a todos", ser
condenada na cruz?

As lições permanecem inesgotáveis. No seu conjunto, atestam com evidência a
diferença de critérios a presidir um projeto de vida e de sociedade. Um
projeto que se guia pelos contra valores do ter, do poder e do prazer, não
tolera um projeto que se guia pela doação, pelo serviço e pelo amor. E se
sente na obrigação de eliminar os que o contestam com o testemunho da
própria vida. Sua urgência de condenar é confissão da própria fraqueza,
incapaz de encontrar justificativas humanas para se sustentar.

Foi assim que o próprio Cristo entendeu o significado de sua iminente
condenação: ela iria significar o julgamento dos que o estavam condenando.

Cristo bateu de frente com o sistema de dominação religiosa, política re
econômica, exercida sobre o povo pelos detentores do poder. Mas estes, para
executar seus planos, acionaram a ambição financeira. Ofereceram dinheiro
para Judas entregar o Mestre, para ser submetido a julgamento, e ser
condenado a morrer.

Com o Cristo crucificado se identificam milhões de inocentes, condenados a
morrer pelo sistema que os exclui da vida. São vítimas da ambição do poder,
da ânsia desordenada do ter, e do desejo desenfreado do prazer, dos que hoje
ainda detêm em suas mãos o destino das pessoas.

Mas o condenado na cruz nos convida a fazermos a opção certa, e assumir o
seu projeto.



Sábado Santo - Empréstimo provisório

Depois da sexta-feira intensa e movimentada, carregada de tensões e
sofrimentos, veio o sábado do repouso.

Como faz bem um dia de repouso, sem agenda, sem acontecimentos, sem
agitação, sem notícias. Para ser vivido no silêncio, na paz, no sono, na
espera.

Um dia que parece vazio. Mas que na verdade se enche de mistério e de
esperança.

As atenções se voltavam para o túmulo, onde ainda estava o corpo do Cristo.
Um túmulo emprestado. Um túmulo de família rica. Após a morte de Cristo,
José de Arimateia e Nicodemos saíram do anonimato, e ofereceram seus
préstimos às mulheres, para darem ao falecido uma sepultura digna. Compraram
caros perfumes, conseguiram emprestado um túmulo, e nele depositaram o corpo
do Senhor.

Foi tarde demais a intervenção deles? Não podiam ao menos ter pago um
advogado, para defender o acusado, num processo tão cheio de irregularidades
jurídicas?

Em todo o caso, agora agiam sem constrangimentos, respaldados pela dignidade
da morte, que tem a força de se sobrepor às injustiças contra a vida. A
morte dos pobres se constitui em força irresistível em favor de suas vidas.
Como a morte de Cristo, plantada no túmulo, de onde brotaria com força nova
e irresistível a vida ressuscitada.

Nunca é tarde para colocar nossos recursos a serviço da vida. O túmulo
emprestado lembra os empréstimos dos ricos para os pobres. Aquele foi um
empréstimo provisório, de apenas três dias, e que compôs o contexto de onde
a vida eclodiu, exuberante, para sempre.

Um empréstimo provisório, que serviu para uma vida definitiva. Ao contrário
de muitos empréstimos de hoje, que mais parecem túmulos definitivos, a
sepultar para sempre as esperanças dos pobres.

Este sábado ensina aos Nicodemos de hoje que o melhor fruto dos recursos
financeiros não sãos os juros acumulados, mas a alegria de ver ressuscitada
a vida dos pobres.

Domingo de Páscoa - Túmulo vazio - corações cheios

O domingo da ressurreição começou na madrugada, com Madalena e as outras
mulheres. E terminou noite a dentro, com os discípulos de Emaús e os
apóstolos reunidos. Um longo aprendizado, para passar da decepção do túmulo
vazio, para a plenitude da alegria com a presença do Senhor Ressuscitado.

Todos os pequenos episódios deste dia ensinam a passar das decepções para a
esperança, da morte para a vida, do sofrimento para a alegria.

O túmulo vazio não era fruto de roubo praticado. Era ausência de morte, era
sinal de vida.

O vazio de Deus em nossa vida é sinal de sua presença, é espaço para nossa
afirmação, é convite para mergulharmos em seu mistério de amor.

As interrogações dos discípulos não eram prova do contra senso, eram pistas
para a descoberta da verdade.

As decepções dos apóstolos não eram confirmação do engano, mas purificação
das mentes, para se abrirem aos desígnios divinos, que superam as falsas
expectativas humanas.

Para experimentar a presença do Senhor não precisavam de muita coisa.
"Tendes aí alguma coisa para comer?" (Lc 24,41). Bastam algumas coisas! Não
precisamos abarrotar nossas despensas, não precisamos de grandes somas em
nossas contas bancárias, não precisamos de grandes investimentos nas bolsas.
A frugalidade está mais próxima da alegria e da plenitude. Corações
abarrotados de desejos não deixam entrar a luz da vida. O Ressuscitado
atravessou paredes e portas fechadas, mas não passa pela barreira da
ganância e por cima do acúmulo.

Assim, a paixão tinha preparado os corações para a alegria do reencontro,
para a paz que vem do Senhor, para o perdão gratuito e total, para o
Espírito que era concedido aos discípulos como primícias da vida nova e
definitiva que já brilhava no corpo ressuscitado do Senhor.
Estavam removidos os obstáculos da morte, estava aberto o caminho da vida
verdadeira. Por ele somos convidados a andar, à luz da fé no Ressuscitado!

Autor: Dom Demétrio Valentini - Bispo de Jales (SP) e Presidente da Cáritas
Brasileira
Foonte: Adital