Desejo que este espaço seja um local que você tenha prazer de participar, e que nossas trocas intelectuais, culturais, emocionais e espirituais resultem em acréscimo para todos nós.  A intenção deste blog também é de publicar algum artigo que você tenha produzido, para que todos aprendamos sobre os mais diversos temas. Enfim, que este seja um local
aconchegante para você.

quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Psicodinâmica e sacrodinâmica do Natal JESUS

José, Maria e Jesus, uma não-pacata família!

Segundo narrativas bíblicas, eis que num pequeno povoado ...
 
“Foi assim o nascimento de Jesus Cristo: Maria, sua mãe, estava prometida em casamento a José, mas, antes que se unissem, achou-se grávida pelo Espírito Santo” Mt.1:18.

Aconteceu algo inédito, fora-de-ordem e do previsto, provocando, no noivo, um inédito incômodo, seguida de pensada reação lógica:
 
“Por ser um homem justo, e não querendo expô-la à desonra pública, pretendia anular o casamento secretamente  (Mt.1.19);

Temos uma seqüência: o enamoramento e planejamento de casamento seguindo o rito tradicional,  o imprevisto e fora-do-padrão, a crise, e resposta lógica de esquiva e plano de saída de José “pois  não sou o pai da criança”. Problemas para Maria: afastamento do amado, ser mãe solteira, estranhamento na comunidade e dificuldade para sustentar o filho, sentimento de rejeição. Sofrimento emocional intensificado pela dimensão sociodinâmica. Não há saída visível para ela dentro do script da cultura. Seria outra “pecadora” enjeitada. 
Neste ponto Deus intervém:

“Mas, depois de ter pensado nisso apareceu-lhe um anjo do Senhor em sonho e disse: “ José, filho de Davi, não tema receber Maria como sua esposa, pois o que nela foi gerado procede do Espírito Santo (Sperma Thou) (Mt.1-20).

Dormindo, com as defesas racionais suspensas, José percebeu com maior amplitude o que ocorria. Deus intervém no profundo do coração, no inconsciente. Um novo processamento mental é possível. Daí seguiu-se o recebimento de Maria, aceitação da gravidez e do filho.

“Ao acordar, José fez o que o anjo do Senhor tinha ordenado e recebeu Maria como sua esposa” (Mt.1.24).
E realizou a nomeação íntima e pública ao mesmo tempo:

“E ele lhe pôs o nome de Jesus” (Mt. 1: 25)

revelando flexibilidade adquirida no bom contato com o nível inconsciente, não- racional: acontecimento de ordem sacrodinâmica. Agora José, Maria e Jesus, constituem um novo núcleo familiar dentro de uma sociedade maior. O Espírito dinamiza o psíquico, transforma padrões, permite o novo e o melhor.
 
E agora, José?  A história de cada um de nós, a de José e da Maria, bem como de toda a humanidade seria totalmente diferente caso José agisse de outra forma. Quem conseguiria imaginar as implicações?

Assumindo a posição de pai de fato, justamente a partir da adoção psíquica e social de Jesus, tornado ]seu filho, José se faz um modelo exemplar de pai, um arquétipo do masculino honrado, do cavalheiro e esposo amoroso e companheiro.  Aqui está o verdadeiro e mais profundo sentido de paternidade: a adoção psíquica, o laço afetivo. Concluindo, pais e mães de fato são mais necessários que os pais e mães de ato. Não por acaso, a mais sublime herança prometida  na Bíblia a qualquer que acolher a Jesus no íntimo é a plena adoção como filho e filha do mesmo Pai. Com o mesmo Espírito Santo poderemos dizer: “Abba Pai”. Esta é a novidade mais radical na história das religiões e a promessa mais íntima que nos anima e sustenta.
Parte de capítulo de livro em preparação:

Ageu Heringer Lisboa, psicólogo - São Paulo e Campinas – ageuhl@gmail.com

domingo, 20 de dezembro de 2009

Nascimento de Jesus


Porque que um menino nos nasceu, um filho se nos deu;
o governo está sobre os seus ombros;
e seu nome será:
Maravilhoso Conselheiro, Deus Forte, Pai da Eternidade, Príncipe da Paz

(Isaias 9:6)

Clarice Lispector


"Sou o que quero ser, porque possuo apenas uma vida e nela
só tenho uma chance de fazer o que quero.
Tenho felicidade o bastante para fazê-la doce
dificuldades para fazê-la forte,
Tristeza para fazê-la humana e
esperança suficiente para fazê-la feliz."

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

A menina, o Papai Noel e a noite mágica de Natal

“Papai Noel chegou!", anuncia alguém.
Corre pela rua a menina feliz para alcançá-lo o quanto antes. Quer compensar o tempo da expectativa da espera. Olha-o encantada, corre e corre ao seu encontro.
Os cabelos morenos cacheados, soltos ao vento, balançam ritmados. Juntam-se a ela outros pequenos em bandos, e ela permanece sendo a mais veloz.

Papai Noel sente-se rejuvenescido no seu cansaço vendo a alegria da menina sorridente que se aproxima cada vez mais. Vem exultante, já o alcança. O abraço que o envolve é grande e tão apertado quanto conseguem seus braços aos quatro anos de idade. Os olhos fechados para eternizar na memória o momento, as pálpebras maquiladas com a sombra brilhante que passara com o cuidado da vaidade feminina e infantil.

Conta ele mais tarde estar “chegando da Sibéria", e que ter visto aquela criança em especial convidando-o para entrar na sua casa deu “muito mais significado à sua vinda". Ele entendeu a dimensão da visita quando, no pátio da residência iluminada e decorada, viu a mesa que ela preparou na casa de bonecas, onde aquela menina recebe personagens encantados dos seus castelos de príncipes e princesas.

O tempo corre no relógio, marcando o riso daquelas horas. Na alma dos adultos a viagem de cada um nas lembranças dos Natais da infância preparados com tanto zelo e amor por seus pais. Hoje eles repassam a seus filhos a herança recebida sobre uma noite de encanto.

As crianças abrem com pressa os embrulhos dos presentes, o sorriso aberto pelo desejo atendido.

A chuva aguardou o tempo certo para refrescar a noite. Veio a ceia de confraternização. No coração de todos a oração consagrada aos seus amores, qual seja, graça recebida do alto, lá onde cintila a estrela mais importante, porque faz parte da história desta família que está reunida.

Papai Noel se despede. Beija a menina.
Ela pergunta para a tia:
-"Meus olhos estão lindos?", fechando-os para mostrar a sombra luminosa adornada pelos cílios longos, fartos e curvos.
Respondo:
-“Sim, estão maravilhosos.”
Ela me olha com um brilho sem igual no olhar, e nele cintilou a estrela brilhante que ensinou a ser o Natal tão mágico, feliz e encantado.

A menina dormiu o sono doce, com o sorriso nos lábios que têm todos os inocentes.

Regina Fabrício

O Natal da Branca de Neve

Aquela menina de imensos olhos – e de um quieto e manso olhar - perdeu a quietude quando chegou o Papai Noel.

Todos lhe falaram, em contos de Natal, que ele é um bom velhinho. Mas ela tem só dois anos e, pelo certo, pelo errado, foi para o colo seguro que é o pai que lhe pode dar.

Papai Noel, roupa vermelha, barba branca, com sua voz rouca dizendo “ho,ho,ho", é tudo que consegue vislumbrar.
Como saber se é bom esse velhinho?
Ele estende tantos presentes bonitos que seu coração desejava, vai ver que é bom esse senhor.

Os primos maiores parecem com ele tão à vontade, talvez assim também possa se sentir.

O tio querido lhe pega no colo. A voz grave traz para ela a poesia dos contos de fadas.
Nos seus braços está tão segura que arrisca um beijo na bochecha enrugada do Papai Noel.

Diante dos presentes está tão fascinado o seu olhar que é perceptível o encantamento que tem esta noite, tão diferente, por algum motivo, de todas as outras.

Ela parece a Branca de Neve… tez tão branca, cabelo tão moreno.
Todos que a rodeiam são tão altos… onde estão os sete anões ?

Tão faceira acompanha a brincadeira dos primos maiores, é “a pequena".
Corre, rindo, atrás de todos eles, para a casa do vizinho. Por que será que eles correm para lá?
O caminho tem enfeites com luzes e fitas, será que é para saber por onde voltar? Já lhe contaram sobre isso na história do Joãozinho e Maria e a vó também fazia assim para ensinar às crianças como encontrar os ninhos de Páscoa. Parece um mundo encantado.

Riso permanente, vestido branco de laços e flores cor de rosa, mais parece uma princesa.
Não traz alvoroço à festa, mas marca de forma tão definitiva sua presença que, à sua passagem, é como se entrasse uma Rainha .
Tem tal magnetismo sua presença que dela não consegue se desprender nosso olhar.
Seus olhos nos interrogam com uma urgência de perguntas, respondidas com sorrisos e caretas que gosta de imitar. Fita com seus grandes olhos castanhos cada presente que vislumbra que, quietinha, responde só sorrindo para os rostos conhecidos que desejam perceber se está feliz.

Nos braços amorosos da tia que a abraça com tanto carinho e aconchego, que enfeitou a casa para o Natal com tanta fantasia e encantamento, parece dizer, no coração quieto e também repleto de emoções:

“Natal é uma coisa tão boa
Adoro Papai Noel.
Essa música é tão bonita
que agora eu vou dançar.”


Regina Fabrício

O CÁLICE VERMELHO

Repousa a flor perolada
na boca do cálice vermelho
ereto, delgado, imponente, em pé.
Só restou ele, nenhum mais...
testemunha resistente que
desafia o tempo provocando-o
à fragilidade
e ele, imperativo afirma que
não se deixará quebrar, não é mero cristal.
Selou nosso amor para além da eternidade
nos corações entrelaçados, musicais,
no beijo apaixonado, imerso em poesia
nas promessas das certezas nas iguarias;
das alegrias, inúmeras,
dos olhares confidentes,
profundos, promissores, completos...
Meu querido,
cúmplice parceiro,
te amo, desde sempre
minha alma é tua, meu amado
tão somente tua
fica aqui no meu abraço
meu amado
meu amado
meu amado

Regina Fabrício em 05/09/2009

DESTINO

Tu estiveste aqui e abraçou o meu destino
em desatino eu quis fugir:
Não, amar não quero,
talvez só me divertir...
não ferir ninguém,
não ferir a mim,
por isso, amar não quero,
e sim, só me distrair.
Mesmo assim, terno, cândido,
gentil e paciente,
trouxeste poesia,
trouxeste flores,
trouxeste café,
trouxeste beijo leve, mas insistente,
até que eu me rendi.
Abracei o teu destino
com amor, com paixão.
Disse sim ao teu convite
e quis ser por ti enamorada.
Feliz junto a ti,
por um tempo, simplesmente.
A vida, essa rival,
enciumada de mim,
te levou para ser livre no infinito,
e deixou eu aqui
com o destino que era prá nós dois.
E se não era para ser assim,
de qualquer modo, esse não é o fim..
pois se o brilho que tinhas
e trouxeste, sorrindo, prá mim,
é o que vejo à noite, naquela estrela,
então, minha estrela guia,
nada chegou ao fim:
tu iluminas a minha noite
enquanto, adormecida, sonho contigo.
Embelezas os meus sonhos
e dos temores noturnos estou protegida.
Quando acordo, tua luz
é o meu perfume.
Sempre estás comigo, amo tua companhia,
e, tendo te conhecido,
impossível sentir-me sozinha.
Meu parceiro, meu amado,
já inventariei todas as minhas perguntas.
Respostas em aberto,
dúvidas do nosso amor, nenhuma.
De qualquer modo, o brilho da tua estrela
nunca chegará ao fim e
é certo que na eternidade dos dias
vou amar minha estrela guia
até depois do meu fim.

Regina Fabrício em 11/09/2009

Vida Cigana




Oh, meu amor,
não fique triste,
saudade existe
prá quem sabe ter...
minha vida cigana
me afastou de você,
por algum tempo vou ter que viver
por aqui...
longe de você
longe do teu carinho
e do teu olhar
que me acompanha
tem muito tempo
penso em você a cada momento,
sou água de rio
que vai para o mar
sou nuvem nova que vem prá molhar
essa noiva que é você...
para mim você é linda!
A dona do meu coração
que bate tanto quando te vê
é a verdade que me faz viver
oh, meu amor, não fique triste,
saudade existe prá quem sabe ter
minha vida cigana me afastou de você
por algum tempo vou ter que viver
por aqui...
oh, meu amor...

Tetê Espíndola

Susan Boyle - I Dreamed a Dream



I Dreamed a Dream


There was a time when men were kind
When their voices were soft
And their words inviting.
There was a time when love was blind
And the world was a song
And the song was exciting.
There was a time ... then it all went wrong

I dreamed a dream in time gone by
When hopes were high and life worth living,
I dreamed that love would never die
I dreamed that God would be forgiving.

That I was young and unafraid,
When dreams were made and used and wasted.
There was no ransom to be payed,
No song unsung, no wine untasted.

But the tigers come at night,
With their voices soft as thunder,
As they tear your hope apart
As they turn your dreams to shame

He slept a summer by my side.
He filled my days with endless wonder,
He took my childhood in his stride,
But he was gone when autumn came.

And still I dreamed he'd come to me
And we would live the years together,
But there are dreams that cannot be
And there are storms we cannot weather.

I had a dream my life would be
So different from this hell I'm living
So different now from what it seemed
Now life has killed the dream
I dreamed.
(Les Miserables, covered by Susan Boyle)

A Bestialidade humana encontrou uma guerreira na estrada

“Não matarás“.
(Êxodo 20:13)
“Rios de água correm dos meus olhos,
porque os homens não guardam a tua lei”.
(Salmo 119:136)


Neste verão conheci a Rota do Sol numa bela tarde de domingo. A magnífica, exuberante paisagem verde, a estrada que serpenteia à distância, foram imagens registradas nas fotos do mirante à entrada dos túneis, obra competente da Engenharia.

Desde a semana passada tais recordações são ofuscadas pela tragédia que alcançou Márcia e atingiu em cheio a todos nós. O sono, desde então, se demora em conciliar. A inconformidade, o espanto, o choque...diante dos fatos, para onde caminha, mesmo, a humanidade?

“Pára, mundo, que eu quero descer!” é uma expressão que traduz o assombro diante da crueldade que se intensifica.

Desta vez a bestialidade humana encontrou uma guerreira na estrada: jovem, bonita, determinada, profissional, responsável, estimada, admirada, dentista empenhada em se aperfeiçoar. Cumpridora de seus compromissos buscava honrar os horários marcados, como atesta a agenda de estampa ao gosto jovem, encontrados entre os bancos, no carro.

Quando passeio na admirável estrutura do Parque de Exposições da Fenamilho, penso na injustiça de Márcia não estar também aqui como planejara fazer, trazendo inclusive seus amigos para visitarem Santo Ângelo, projetos estes desfeitos pela mente deturpada de um assassino vil, cruel, besta-fera.

Apenas besta-feras tomam à força a intimidade que tão somente à mulher pertence, e que, a compartilhar, será à destinação de seu amor e à sua escolha de desejo. Homem com competência, conquista. A besta-fera, incompetente, viola. O assassino, covarde o suficiente para não correr ao encalce de um homem/testemunha (a ser verdade o que diz) como teria ameaçado fazer. Numa noção às avessas do que é ser macho de verdade, usou da força muscular bruta, em superior à feminina, numa determinação doentia de ser algoz até o fim.

Márcia, esta sim, foi uma verdadeira mulher, com dignidade em toda a sua luta. O assassino roubou sua vida; a dignidade, porém, não tinha como matar, pois não encontrou uma mulher que se rendeu ao medo paralisante, mas uma guerreira, uma lutadora, numa resistência ativa.

Quando estiver novamente na Rota do Sol, ainda que seja num lindo dia de verão, não a verei novamente “ensolarada”. Aliás, nem quero. Quero lembrar, não esquecer. Esquecer significaria acostumar-me, anestesiada, com “casos” chocantes como esse. Por trás de cada “caso”, um nome, uma trajetória, uma vida, múltiplas vivências, projetos, lutas, uma família, amigos, colegas, amores...Esquecer não seria nem justo para com Márcia e outras mulheres que sofreram mortes violentas.

Nos casos de dor coletiva é necessário juntar forças e somar empenhos individuais para lidar com um luto que é de todos, como iniciar ou participar de um grupo de apoio e de solidariedade às famílias e amigos das vítimas. O efeito é terapêutico e cumpre uma função social importante, significativa. É uma forma de não permitir que a luta inteira de Márcia e, principalmente sua luta final, pelo legítimo direito à sua vida, resulte em vão.

A população brasileira já se mobilizou, unida, por ocasião das Diretas Já, em 1985, e no impeachment de Collor, em 1992. O que justifica, desde então, nossa passividade como povo? Por vezes ocorre uma ou outra passeata isolada de “Abaixo a Violência“, “Sou pela Paz“. É necessária uma ação em massa, união de movimentos que resulte em reformulação de leis mais severas e aplicabilidade destas, para que as barbáries tenham punição exemplar.

Para perguntas às quais não temos facilidade para encontrar respostas, recomendo o livro “Quando coisas ruins acontecem com pessoas boas”, cujo autor, Harold S. Kushner, é um rabino que teve questionamentos dirigidos a Deus quando o filho foi acometido por uma doença que levou-o à morte ainda adolescente . Penso ser um bom livro para alívio no luto.

Indico também, “A Cabana”, de William P. Young, cuja história escreveu devido às experiências traumáticas que sofreu (morte da sobrinha e irmão; abuso sexual). Sobre este livro está escrito: “Essa história deve ser lida como se fosse uma oração – a melhor forma de oração”.

E, para finalizar, podemos citar que já encontramos na geração subseqüente a Adão e Eva, o primeiro registro de homicídio, com Caim matando Abel, seu irmão. Logo adiante, no Capítulo 6 desse mesmo livro de Gênesis, na Bíblia, a manifestação do arrependimento de Deus por ter criado o gênero humano devido a sua corrupção.

“Viu o Senhor que a maldade do homem se havia multiplicado na terra,
e que era continuamente mau todo desígnio de seu coração;
então, se arrependeu o Senhor de ter feito o homem na terra, e isso
lhe pesou o coração...
me arrependo de os haver feito”.


(Gênesis 6:5, 6, 7b)

À família de Márcia e seus amigos, manifesto minha consideração e respeito à sua dor.

Regina Fabrício em 02/05/2009

CASO ISABELLA

A menina teve um terrível pesadelo

Já era hora de ir para a cama, afinal, o relógio na cabeceira mostrava os ponteiros não faltando tanto assim para a meia-noite. Aconchegou-se nas cobertas, e, por entre as pálpebras no vaivém entre o sono e a vigília, ainda admirou seu lindo quarto pintado de lilás,o baú, os brinquedos, a Hello Kitty.

A menina adormeceu e, de repente, começaram imagens confusas. O lugar já não tinha o aconchego de um lar, mas era a sua casa. Mal visualizava os rostos sombrios de dois adultos que se aproximavam, ameaçadores. Quando os reconheceu,acordou sobressaltada. Com dificuldade, dormiu de novo . O terreno das sombras deu lugar a mais escuridão e medo. Faltava-lhe o ar, estava ferida, sangrava. Logo a seguir estava no colo de um homem, mas desta vez os braços fortes não eram amorosos, nem protetores. Ele a leva, com passos determinados, para a escuridão , para o vácuo, para um túnel de terror.

Quando acorda, está num lugar lindo, com crianças brincando livres, rindo num parque de diversões. Tem cantigas de ninar, e antes das crianças serem postas para dormir, são contadas histórias de príncipes e princesas, heróis e heroínas que vem correndo para salvar do perigo, e quem conta são os pais e as mães amorosas que também tem por ali. Tem anjos por toda a parte, com sorrisos luminosos e olhar muito doce. Um anjo se aproxima e pergunta :

_ Do que você precisa ?
_ De uma caixinha de lápis de cor.
_ O que você quer pintar ?
_ Uma boneca com o cabelo balançando ao vento, no escuro. Foi um pesadelo que tive.
_ E o que mais você quer desenhar ?
_ Depois esse arco-íris porque aqui a menina é feliz.
_ Pinta, querida. Aqui está a caixinha de lápis de cor que pediste .

E o anjo se afastou para poder chorar. Regina Fabrício em 04/2009