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terça-feira, 21 de dezembro de 2010

O NATAL DO ENCONTRO INESQUECÍVEL

Regina M. Medeiros Fabrício

Naquela tarde de quinta-feira, 24 de dezembro de 2009, fui até o cemitério
levar flores para a minha mãe. Pensava nela e no amado da minha alma, sentindo
muita saudade de ambos e recordando os Natais compartilhados outrora.

Estava, portanto, muito triste quando inicia algo que contando, parece surreal.
Chega ao meu lado um senhor, funcionário da limpeza do Cemitério Sta Casa , com vassoura e pá.
_ Quem tens aí, filha?

_ Minha mãe...ela morreu em 2007, e agora eu não tenho mais o meu amor,
que foi meu noivo, e faleceu em julho, há 5 meses.
Ele sempre colhia flores aqui, enquanto eu falava com a minha mãe.

_ Aquele rapaz que vinha junto?! Mas....olha só, quando que se vai imaginar...
eu via vocês aqui, sempre juntos. Faz o seguinte, de noite, reza o terço, na cama, quando fores dormir.
Olha, minha filha, ontem, dia 23, fez 17 anos que eu perdi minha esposa,
ela me deixou com filhos pequenos, criei todos sozinho e agora até já me deram netos..

_ Ah, é mesmo, e quantos netos o senhor tem?
_ Seis.
_ E o senhor casou de novo?
_ Não, não quis casar, não quis ter compromisso, mas...sabe como é, né? (dando a entender que, às vezes, namora)

Esse senhor foi me distraindo, e conversando de um modo tão querido e manso,
que fui secando meu rosto das lágrimas num lenço.

_ Quando vieres aqui, me procura, meu nome é José.

Respondi: José é um nome de origem hebraica, e significa "Aquele que acrescenta".

_ Pois é, e ele era marceneiro, né? _ disse isso sorrindo, com a barba branca, e quando tira o boné diz que tem 63 anos. A cabeça, descoberta, mostra os cabelos brancos também. O rosto, bem redondo, era sorridente. Me pareceu bem emblemática a fisionomia dele, numa época de Natal...

_ Deve ser difícil trabalhar num lugar assim, onde se vê tanta tristeza.

_ Olha minha filha, é como num hospital, um dia um paciente tá ali, no outro dia já é outro.
Difícil para mim é quando é com criança.

_ Sim, como morrer um dia é certo, com adultos sabemos que é o tempo de cada um que vai passando, mas com criança realmente é mais sofrido, inesperado para as famílias.

_ É sim, é sim. Sabe, filha, eu trabalho aqui há muitos anos. Até já saí no jornal seis vezes!

_ Ah, é? Então o senhor está famoso!

_ Sei até bancar o Papai Noel, quer ver?

"Tá tristinha, minha filhinha, toma aqui, toma uma balinha".
(Aí passa para outra fala):
Também sei fazer: "HO HO HO"(balança o corpo e eu me vejo rindo)
e sei ainda dizer: "Vem cá, senta aqui, me conta como foi que você se comportou este ano..."

A essas alturas eu estava leve, rindo, e me dei conta que eu estava falando com o próprio
Papai Noel, em pleno cemitério, vazio nesse dia de uma tarde muito quente de Natal.
Ou, quem sabe, com um anjo?
Talvez, até mesmo, Deus.

Nos despedimos, eu me sentindo agraciada pelo céu, com a alma leve, leve...
Disse para ele: _Seu José, o senhor não sabe o quanto me "acrescentou"!
Ele, enquanto voltava pelo corredor para continuar seu trabalho, repetia:
_Tchau, mimosinha, tchau, mimosinha, não me leva a mal de te chamar assim,
é que eu gostei de ti, viu, e foi de bom coração!

Eu caminhava, sorria, abanava, me despedia.
"Deus, isso foi surreal, eu vivi, e foi maravilhoso!! " Pensava nisso enquanto caminhava, e olhando o relógio vi que haviam-se passado 26 minutos lá dentro.

Eu estive com o bom velhinho, e o velhinho bom , numa atitude terapêutica,
me aliviou o coração.
Mal ele sabe que eu sempre acreditei que Papai Noel existe, teime alguém em dizer prá mim que não!

(Tudo o que escrevi aqui não foi uma criação literária, me aconteceu na tarde de Natal
de 2009, e tornou-se inesquecível).
FELIZ NATAL!

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