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segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Zilda Arns: mulher do bem

Valdo Barcelos*

O poeta e ensaísta mexicano Octávio Paz (1914-1998) dizia que aquele que morre de um jeito diferente do que viveu é porque não foi sua a vida que viveu. Penso que esta máxima é perfeita para dizer de como foi a vida e a morte da médica, pediatra e sanitarista Zilda Arns (1934-2010). Zilda Arns foi uma das vítimas brasileiras no terremoto que assolou a República do Haiti no dia 12 último. Nascida no pequeno município de Forquilhinhas-SC, se transformou em cidadã do mundo. Dedicou sua vida a organizar os mais desprotegidos deste Brasil. Ao mesmo tempo em que era de uma doçura e amorosidade imensas, Zilda demonstrava imensa força quando se tratava da defesa da saúde pública, em especial de crianças em situação de desnutrição e de mulheres carentes das comunidades pobres do Brasil. Sua amorosidade não desaparecia nem mesmo quando precisava defender suas teses contra a insensibilidade de poderosos e governantes inescrupulosos. Mesmo nesses casos, ninguém nunca a via levantar a voz. Conseguia mostrar que gritar, ou falar alto, via de regra, é atitude de quem tem poucos argumentos ou coisa de prepotentes. Mesmo nos debates mais acalorados falava sem gritar. Mantinha a serenidade e o sorriso de quem sabe o que quer. De quem sabe que está do lado certo.

Esta mulher, que viajou o mundo, sempre retornava ao lugar que, segundo ela, mais a fazia feliz: o Brasil. Sua dedicação às causas dos pobres lhe valeu grandes alegrias. Seu trabalho foi reconhecido em muitos países e em todos os continentes. Recebeu prêmios e condecorações que ela, na sua simplicidade e humildade, dedicava aos que com ela trabalhavam. Entre os tantos prêmios merecidos que recebeu foi indicada para o Prêmio Nobel da Paz. Entre as tantas entidades que ajudou a organizar, uma delas lhe era muito cara: a Pastoral Nacional da Criança. A ela, dizia, dedicava suas mais delicadas e fortes energias. Foi sua fundadora em 1983 e permaneceu como coordenadora até a recente morte. Aonde ia, Zilda Arns levava o nome, a mensagem e a prática de trabalho da Pastoral da Criança no Brasil. Prática esta, que foi seguida e imitada por centenas de outras entidades pelo mundo todo. Talvez poucas pessoas sejam tão conhecidas e reconhecidas fora deste país como a brasileira Zilda Arns. Mulher de fala mansa. De olhar denso. Gestos calmos e sorriso largo. Mulher que soube, como poucos, mostrar a força do frágil num mundo de tantas brutalidades. Zilda Arns morreu no lugar onde passou grande parte de sua vida: nos haitis de lá e daqui. Zilda Arns, Mulher do Bem!

*Valdo Barcelos é professor da UFSM - Universidade Federal de Santa Maria, RS, ecologista, escritor.

Fonte: Gazeta do Sul, Santa Cruz do Sul, RS - 15 01 2010

Site: www.gazetadosul.com

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